Juliana Lima tenta seguir em frente, mas carrega nos olhos e na voz a angústia de quem viu a vida virar do avesso. Desde o sequestro do filho, o adolescente Jorge Gabriel Carvalho, de apenas 14 anos, a rotina da família mudou drasticamente. Com medo constante e sensação de insegurança, ela conta que teve que deixar a casa onde morava, recomeçar do zero e lidar diariamente com as lembranças do que chama de pesadelo.
“O que aconteceu com meu filho não desejo para mãe nenhuma. Nossa vida parou. A gente está tentando voltar, mas não é fácil. Eu vivo com medo, insegura, assustada”, desabafou Juliana.
O sequestro de Jorge Gabriel ocorreu no dia 26 de junho, por volta das 21h, quando o adolescente voltava sozinho de uma aula de jiu-jitsu, em Monsenhor Gil, região Sul do Piauí. Ele foi abordado por criminosos na BR-316 e levado à força para um cativeiro em área de mata fechada. Após 18 horas de buscas, uma operação da Polícia Civil resultou no resgate do garoto, com cinco presos, dois suspeitos mortos e um foragido: Ítalo da Silva Araújo, apontado como o mentor do crime.
“Me trataram como um animal”, diz Jorge Gabriel
Com fala pausada e madura para a idade, Jorge Gabriel relatou momentos de tensão durante o sequestro. “Foi totalmente desconfortável. Me tratavam como um animal. O caminho era ruim, batia minha cabeça e minhas costas. Me deixaram no meio do mato para dormir, depois me levaram a pé para o cativeiro. Eu estava vendado com uma toalha na cabeça”, contou.
Segundo o adolescente, ele chegou ao cativeiro por volta das 3h da madrugada e ficou sob vigilância dos sequestradores. “Não posso dizer que me trataram muito mal, me deram água e comida, mas eu sabia que estava em perigo. Quando meu pai não fez a transferência, eles começaram a cavar um buraco e disseram que iam me matar”, lembrou com voz trêmula.
Trauma e medo após o resgate
Apesar da libertação, a tranquilidade ainda está distante da rotina da família. “A gente continua tenso, porque ele [Ítalo] ainda está solto”, afirmou Jorge, que tenta aos poucos voltar à escola e ao jiu-jitsu, mas já não vive com a mesma liberdade de antes. “Antes eu era mais livre. Agora meus pais estão sempre por perto, e a gente evita sair de casa.”
Juliana também compartilha essa realidade: “Tivemos que sair de casa, mudar tudo. O medo está presente em cada passo. O coração de mãe vive apertado, porque ainda tem alguém solto que fez isso com meu filho.”
Caçada ao mentor do sequestro
Ítalo da Silva Araújo, identificado como líder do grupo criminoso responsável pelo sequestro, segue foragido. A Secretaria de Segurança Pública do Piauí divulgou a foto do suspeito e pede ajuda da população para localizá-lo. Informações podem ser repassadas de forma anônima pelo número 190.
Enquanto isso, Juliana e Jorge tentam reconstruir a vida. “A gente quer justiça, mas também quer paz. Foi um pesadelo, mas agora queremos respirar em segurança de novo”, finaliza a mãe, com os olhos marejados e a esperança de dias melhores.
⚠️ Denúncias anônimas sobre o paradeiro de Ítalo da Silva Araújo podem ser feitas pelos canais oficiais da polícia ou pelo telefone 190.