segunda-feira, junho 16, 2025
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ANDARILHO FELIZ

Texto.

às 11:50

Foto: Reprodução / Igreja das Dores Teresina

Sempre gostei de andar. Sinto-me feito um pássaro que fugiu da gaiola, gosto de observar as pessoas, o mundo e a vida. Às vezes, à noite, antes de dormir, fazia um mapa mental para traçar meu percurso até o Mercado Central, o percurso escolhido teria as suas próprias reminiscências. Para cada caminho, sua história. Haviam várias opções. Até a Piçarra ia sempre pela a avenida Abdias Neves, e ia até onde findava. Lá tinha duas opções, ou pegar a esquerda e seguir pela avenida Higino Cunha, ou pegar a direita e rumar pela avenida São Raimundo. Chegando na agência do Banco do Brasil que limita com a avenida Miguel Rosa, poderia pegar para passar, onde foi a antiga fábrica do óleo Dureino – amava o cheiro que ela exalava – e seguir até a Estação do Trem, ali, sentado à sombra, descansava. Era minha primeira parada. Ficava ruminando o movimento da cidade. passava em frente ao 25BC e pegava a rua Lisandro Nogueira. Ou pegar pelo setor das clínicas e dos hospitais para sair na Igreja São Benedito, praça Pedro II. Ou, ainda, entrava ao lado da loja Jacaúna e pegava a avenida Joaquim Ribeiro para sair no Colégio Diocesano na Praça Saraiva, Igreja das Dores… aqui também era lugar de parada. Outra parada era na Igreja do Amaparo, a paz que há no silêncio das igrejas me invade. Hoje, evito caminhar pois, em 2007, sofri um acidente de moto na avenida João XXIII, bem no semáforo, que fica antes do balão do São Cristóvão. Se forçar muito na caminhada incha e dói. Sinto falta das minhas andanças à pé, apesar de ter, à época, um carro e uma moto na garagem, sempre amei andar e desfrutar do mundo e da vida. Era, para mim, como um cinema mental, ia assistindo a minha juventude, perambulando pelo Centro da capital. Da Piçarra até o Troca-troca. É como um túnel do tempo. Lembro de cada detalhe, até dos buracos nas calçadas, da escada rolante das Casas Pernambucanas… Hoje, há muitas construções modernas, mas ainda trago resquícios ,e muitos, do meu tempo. Década de 70. Conheço o Centro de Teresina palma a palma como a palma da minha. Hoje, vendem-se celulares na praça da Bandeira. Na minha época, eram vendidos remédios, unguentos, lambedores, que eram verdadeiras panaceias, batendo-se com uma vara de madeira numa mala de madeira, onde habitava uma jiboia enrolada, exótica e sedutora. Podem até implodí-la mas preservo uma maquete perfeita em minha memória, que só, somente, o tempo será capaz de apagar.

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