Pinturas nas pilastras da avenida são prévia para evento Festival Retalhos que terá sua segunda etapa realizada na próxima quinzena de setembro e promete trazer artistas nacionais e locais para enriquecerem com muita beleza as paisagens da capital do Piauí. Edição desse ano irá homenagear Nonato Oliveira.
por: Clara Magalhães às 10:27
A Av. Maranhão localizada no centro de Teresina é um dos cartões postais da cidade e foi escolhida para passar por um processo de ressignificação. A arte antiga já presente no local a vários anos está sendo substituída por uma arte nova e que carrega um propósito. A intervenção artística está acontecendo como prévia para o festival de arte urbana Retalho, que une vários artistas em determinado local da cidade ou em diversos locais com um propósito em comum, o de trazer mais cor e vida para esses ambientes, além de promover a arte e os artistas que a produzem.
A pintura das pilastras que se estendem pela avenida foi ideia dos artistas piauienses Washington Gabriel, Malcolm e Hudson Melo, que decidiram conversar com todos os artistas responsáveis pelas artes que antigamente enfeitavam ali, que aceitaram a proposta de renovar o local com novas pinturas, abrindo espaço para a ascensão artística do grafitti na capital. Eles passaram um mês observando o local e colhendo informações para enriquecerem os temas das suas pinturas e levarem ao público um trabalho conceitual e muito bem executado.
A pintura em cada pilastra aborda um tema especifico que tem bastante a ver com elementos que compõem o cenário da avenida. O artista piauiense Washington Gabriel conhecido como WG, de 47 anos, que vive da arte do grafitti a mais de 20, afirma “A gente tá trazendo pra cada pilastra um tema, tem os peixes, tem os vendedores. Aqui nesse caso, a gente tá pintando as pessoas que ficam nas paradas, pai e filho, que ficam levando suas compras… Tem os banquinhos ali que o pessoal faz de madeira, e os pássaros também. Então a gente tá trazendo um pouco do que a gente tá vendo e, às vezes, criando até aqui mesmo, sentando ali na barraquinha do festival e desenhando no book e já indo executar, é meio que um trabalho de freestyle também” afirma ele.
WG declara ainda que os 3 artistas organizadores do festival pensaram na edição desse ano com o intuito de dar luz a algum lugar da cidade, no caso, o local escolhido foi a avenida Maranhão que possui uma importância muito grande e se encontra esquecida pela própria população, apresentando também problemas de uma cidade metrópole em ascensão e ainda tendo sequelas desse processo.
“A arte a gente traz ela pra cá meio que pra dar luz a esse local, mostrar o quanto esse local é massa; o rio, a avenida, e fazer com que os artistas interajam com eles, com as pessoas que tão passando aqui, que querem comprar no centro, ou os vendedores e até mesmo o pessoal que vigia carro. Todo o espírito da avenida a gente quer trazer pra obra e também. Na segunda etapa, a gente quer continuar com essa vibe pra sensibilizar não só sobre a arte mas também sobre os locais esquecidos da cidade” afirma ele.
O projeto Retalhos foi aprovado na lei de incentivo a cultura e é patrocinado pela Equatorial, bem como por outros apoiadores. O artista Gabriel declara também que após a entrega da pintura das colunas um novo processo terá início, a recepção de quinze artistas, dez deles são do piauí e através de inscrição por chamada pública foram selecionados pela curadoria. Tais artistas irão participar dessa nova etapa, 5 deles são convidados nacionais, de locais como São Paulo e do Rio de Janeiro, por exemplo. Eles terão a oportunidade de interagir com os artistas locais e com as paisagens da capital do Piauí.
” A gente vai tá pegando painéis ali próximos da ponte metálica, paredes de estacionamentos, do shopping da cidade, da estação do metrô e também as pilastras da outra ponte. Então vai ficar um corredor de arte pra quem tiver passando ir admirando, que é o que vai acontecer na segunda quinzena de setembro, essa segunda etapa do projeto.” declara o artista que faz do grafitti a sua vida.
WG diz ainda ser uma realização a participação e o envolvimento no projeto, porque como artistas, eles vêm acompanhando a ascensão artística da modalidade em outros locais e sentiram a carência de uma manifestação assim na cidade de Teresina.
“Queríamos ter a oportunidade de pintar tão grande, de interagir com outros artistas e a gente acordou que a gente mesmo precisava escrever, parar um pouco de trabalhar e escrever um projeto, e ter esse momento durante o ano que a gente se dedica ao nosso segmento, não só a nós mas também a outros artistas, porque crescendo o todo é importante pra mim, é importante pra os outros envolvidos e principalmente é importante pra os artistas que vão pintar e que vão ser vistos. Eles vão tá com a estrutura ali do lado e vão ter a liberdade pra criar ali mesmo desenhos dentro do seu traço e da sua ideia” diz ele.
Ele conta também que possui um carinho muito forte pela Avenida porque veio muito pequeno morar na capital e ficou encantado ao ver o tamanho do rio que corta a cidade, separando Teresina do estado do Maranhão.
“Com um rio tão grande a gente olha pra cidade assim, a gente já se acostumou tanto que a gente acabou esquecendo a importância do rio, dos pontos de grandes aglomerações, da avenida, dessa coisa simbólica do Maranhão tá do outro lado e a gente se olhar mesmo. A cidade é a gente na verdade, quando a gente pinta os locais onde a gente vive, meio que a gente vê a nossa cidade e vê que tinha um artista ali pintando e então entendemos que também precisamos olhar melhor pra nossa cidade”. Ele enxerga com orgulho a sua contribuição não somente artística, mas também social para a cidade.
O festival Retalhos que a cada edição homenageia um artista nessa estará homenageando Nonato Oliveira, que já teve suas artes enfeitando pontos da cidade, levando um teor bastante regionalista em suas obras. O Instagram do evento é @festivalretalho e mostra que também tem uma proposta de lançar novos nomes de artistas locais.
Edilson da Silva, de 48 anos, vendedor ambulante com ponto em frente ao Lojão do Paraíba, mora em Teresina mas nasceu em Coelho Neto no Maranhão e afirma também: “É muito bom essas pinturas que tão fazendo nessas colunas, elas são ótimas porque fica o desenho visível pra quem tá aqui ou pra algum turista que passa, está muito bonito e é mais uma atração pra cidade.”
A manifestação artística chama a atenção para a importância de enxergar a arte do grafitti que é carregada de um teor estético que se alinha a mensagens poéticas e de críticas sociais, instigando a população a pensar sobre assuntos que geralmente são ignorados no dia-a-dia mas que possuem uma relevância muito grande.