HÁ PROBLEMA
Há problema na esquina da rua. Há problema na televisão. Há problema de todas as cores, de todas as dores e em todos os andores. Há problema, todos os dias, nas vitrines das lojas. Há problema no olho do cego. Você pode fortalecê-lo ou asfixiá-lo com desdém. Assim como as noites, os problemas vêm e vão. Há problema pequeno, médio e grande, mas há também problemão. Enquanto houver vida, haverá espinho, festejo e procissão. Há problema na semana. Há problema fatal no avião. Há problema na data da passagem. Há problema no leilão. O trânsito é um problema crucial nas manhãs das grandes cidades. Há problema na menstruação. Compre absorvente com abas. Há problema no aluguel, onde a casa está cheia de goteira. Há, também, bicho no feijão. O dia não veio, o ônibus não veio, tudo sumiu e mundo mofou. Há problema na calça amassada, na vista amassada e no povo amassado dentro do coletivo da grande cidade. Há problema até no chulé. Há problema no preço do All Star. O café está frio, pois tem problema. A comida está feia, pois tem problema. A moça é madame frígida, pois há problema nas coxas e no tesão do namorado. Há problema na prestação da geladeira, da bicicleta e do fogão. Há problema nas pernas da dançarina. Dê bombom às crianças no dia de São Cosme e São Damião. Há problema no bar, pois a luz faltou. Há problema no carro, pois a gasolina acabou. Há problema no barco, pois a vela furou. Há problema no jarro, pois a água secou. Houve alvoroço na chuva quando o trovão rachou. Faça promessa, mas não cumpra, não. Há problema na esquina da lua. Há problema no rastro do cego. Dê milho aos pombos… e vá ao bar, onde os problemas não costumam entrar.
