segunda-feira, junho 16, 2025
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HUMANA DEMASIADAMENTE HUMANA

às 12:49

Era um homem minúsculo na estatura, mas um gigante em honestidade e hombridade. Um monstro na lealdade e fidelidade. Um homem de poucas letras, contudo, um sábio. Vieram ele, a esposa e as duas filhas, da cidade de Esperantina. Perambulou pela capital atrás de um abrigo e acabou instalando-se, com sua prole, numa escola municipal abandonada, que ficava na estrada do povoado Alegria, porque a mesma havia sido construída num terreno, que ficava à beira do rio Poti. Prevendo algum incidente ou acidente, com as crianças, a justiça mandou fechá-la. Ele chegou, de mansinho, entrou, de mansinho, botou a família para dentro, de mansinho, e, de mansinho, foi ficando. O que era só para passar uma chuva, tornou-se residência fixa. Um belo dia, o papai vai passando para ir ao seu terreno, no povoado Torrões, quando viu aquela pessoa com o braço estirado, à beira da pista, oferecendo um cambo de peixe. Freou e encostou o carro à sombra da mangueira e desceu. Cumprimentou-o e comprou alguns cambos de peixe. A Wando, que fazia companhia ao marido, sentada numa cadeira encostada à cerca de talo, foi pegar uma sacola e eles ficaram conversando… ali surgia, naquele momento, uma grande amizade. O papai passou a levar víveres, de secos e molhados, e roupas, que meus irmãs e minhas irmãs não usavam mais, para eles. Aos finais de semana, às vezes, o papai combinava com ele e íamos à pescaria. Só levávamos os ingredientes para fazer o peixe, à beira do rio, e a cachaça, pois a canoa, as tarrafas e enganchos eram dele. E o pescador era ele, pois era profissional na arte da pesca. Um dia esquecemos de comprar o sal. Compramos farinha pro pirão, cebola, cheiro-verde, tomate, pimentão, fósforo, fumo Sacy pro Luisinho, óleo e umas costelas de gado para assar durante a noite, mas, esquecemos o sal. Levamos corda, lençol e rede para passar a noite. Era uma festa. Íamos nós e os amigos. A mamãe já sabia que seria dia de farra, porém, esquecemos o sal. Fui à casa dele para pegar um sal emprestado, pois havíamos esquecido o sal. Chegando lá, dei duas ou três batidinhas à porta. Dona Wanda abriu e trouxe o sal tão desejado. Só tinha, no máximo, uns dois dedos, no fundo do saco. Aquilo tocou meu coração. Poxa, apesar de toda dificuldade, de tudo muito regrado, muito medido, ela ofereceu o pouco que tinha, com um sorriso esbanjado à face. Deu certo. Era a quantia certa para nossas necessidades naquele momento. As pessoas humildes e simples não têm medo de repartir. São pessoas de partilha. Sabem, no fundo da alma, que o amanhã, Deus proverá.

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