sexta-feira, novembro 22, 2024
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O SABOR DA MANHÃ

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Coluna de Antônio Neto

Minhas manhãs são doces como mel. Acordo, beijo minha amada e meu caçula, abro a janela do quarto do meu sobrado, bebo o horizonte afunilado ao céu com um gole de sol e limão, pois o mesmo nasce muito tímido, e desço à companhia da Janis e do Juca. Abro as portas, bebo água, dou o remédio de uso contínuo dela e ponho a ração para os dois mascotes. Ponho o celular “nalgum” tema da “Casa do Saber”, ponho meu divã ao lado do pé-de-mamão, ligo a mangueira e, enquanto ouço a palestra, vou aguando as plantas. Um céu todo só pra mim, meus inquilinos e meus convidados. Geralmente, a Carmelita aparece para comer sua folha gelada de alface ou uma fatia de banana, melão, tomate… São 5h da matina e só ouço o canto cristalino dos pássaros sem poluição sonora do ronco dos automóveis. Retalhos do meu mundo. Vou maturando os sons do seu canto, enquanto o sol matura os frutos.

Sempre tive muita dificuldade de lidar com o que tem vida na hora de ter que escolher entre uma vida e outra. Se tenho que arrancar um mato, que tem uma essência caríssima, embora não a conheça, não podendo usufruir dela, por falta de conhecimento, me dar uma dor e uma dó no peito esquerdo, causando-me um remorso horroroso em ter que escolher. Deixa-me em trevas ajuizar vidas. Sofro! Na maioria das vezes, esbarro nas formigas do rabo-de-fogo, que deixam os meus pés em brasa, mesmo assim, procuro tirá-las com a água corrente da mangueira. Nunca as mato. Assim, com os insetos, lagartas, baratas, potó, catitas, ratos… nunca os mato.

Foto: Glória Santana

 Quando aparece alguma aranha em casa, sempre sou chamado, pois as pego e cuido em soltá-las no mato, mas não as mato. O único bicho, animal que me causa asco são as cobras. Estas, quando as conheço, procuro pegá-las e despachar bem longe de casa. Agora, quando não sei o grau de letalidade da mesma, mato. E não me causa dó nem dor. No mais, tenho sempre uma boa convivência com meus amiguinhos, mesmo os arredios, intra e extraterrestres. Política da boa vizinhança.

O meu pé-de-maracujá lembra-me muito a Carmem Miranda em seus balangandãs e no seu ritmo tico-tico no fubá distribuído pelos palcos mais famosos dos cassinos europeus. Com o vento soprando melodias astrais ao seu ouvido ele se remexe todo em sua saia rodada. E encanta tanto quanto ela encantou e cantou mundo à fora.

Foto: Glória Santana

 O meu pé-de-mamão, não sei se devido ao modelo do seu caule e ao corte detalhado das suas folhas, leva-me ao mar e às suas jangadas em velas ao tempo. Sinto-me, perto dele, um havaiano em charuto cubano, camisa florida e em chapéu Panamá branco à mesa do bar num belo drinque ao som das ondas do mar a balançar canoas.

A minha Pimenta Malagueta é espevitada e o tempo todo porra-louca. É linda em vermelho-sangue e verde-oliva. É, verdadeiramente, uma linda piriguete. Parece uma putinha de beira de cais em fivelas coloridas a enfeitar suas madeixas. Essas rapariguinhas que ficam à beira das “BRs” em shorts curtos para picar caminhoneiros desavisados. Ela dá um sabor ímpar à comida.

A minha Roseira está sempre muito bem maquiada e perfumada. Logo cedo passa batom vermelho nos lábios, passa pó na face, passa lápis nos cílios e com a ponta do lápis faz um sinal na face direita (o famoso pega-rapaz), bota seu vestido em rosas grandes em tecido de chita e se senta numa cadeira à calçada aos finais de semana para distribuir beleza, empatia e simpatia.

 Agora, tem um cara, aqui, que não é muito bem quisto. Nem muito bem visto. Nem muito bem vindo pela fauna e nem pela flora. Dizem que é forasteiro da África. É um tal de “Nin”. Os insetos e os pássaros o abominam. Um dia desses, estava eu aguando as plantas quando um gafanhoto enorme e belo em verde-cana pousou no seu topo, porém, demorou pouco e partiu. Contudo, eu o respeito e o trato muito bem. Com toda amabilidade. Adoro sua sombra que é soberba, introspectiva e fria.



Antônio Ribeiro de Sampaio Neto, nascido no bairro Cidade Nova, em Teresina(PI), no dia 29 de junho de 1963. Filho de Singleustre Ribeiro de Sampaio e de Marlene Lemos de Sampaio. Ex-funcionário do Banco do Brasil onde ficou por 15(quinze) anos. Cursou Letras Português com Literatura Brasileira e Introdução à Literatura Portuguesa, na Ufpi (Universidade Federal do Piauí). Pai de Ananda Sampaio (Escritora), Raíssa Sampaio, João Victor Sampaio e Bento Sampaio. Atualmente, reside na cidade, ribeirinha, de União(PI). Tem por hobby música(fã incondicional de Belchior – in memorian), livros e cachaça, ao pé do balcão. Adora passar o tempo jogando conversa fora(cotidianas, bobas e triviais à companhia de mentirosos – pescadores e caçadores).

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