Coluna de Antônio Neto
Minhas manhãs são doces como mel. Acordo, beijo minha amada e meu caçula, abro a janela do quarto do meu sobrado, bebo o horizonte afunilado ao céu com um gole de sol e limão, pois o mesmo nasce muito tímido, e desço à companhia da Janis e do Juca. Abro as portas, bebo água, dou o remédio de uso contínuo dela e ponho a ração para os dois mascotes. Ponho o celular “nalgum” tema da “Casa do Saber”, ponho meu divã ao lado do pé-de-mamão, ligo a mangueira e, enquanto ouço a palestra, vou aguando as plantas. Um céu todo só pra mim, meus inquilinos e meus convidados. Geralmente, a Carmelita aparece para comer sua folha gelada de alface ou uma fatia de banana, melão, tomate… São 5h da matina e só ouço o canto cristalino dos pássaros sem poluição sonora do ronco dos automóveis. Retalhos do meu mundo. Vou maturando os sons do seu canto, enquanto o sol matura os frutos.
Sempre tive muita dificuldade de lidar com o que tem vida na hora de ter que escolher entre uma vida e outra. Se tenho que arrancar um mato, que tem uma essência caríssima, embora não a conheça, não podendo usufruir dela, por falta de conhecimento, me dar uma dor e uma dó no peito esquerdo, causando-me um remorso horroroso em ter que escolher. Deixa-me em trevas ajuizar vidas. Sofro! Na maioria das vezes, esbarro nas formigas do rabo-de-fogo, que deixam os meus pés em brasa, mesmo assim, procuro tirá-las com a água corrente da mangueira. Nunca as mato. Assim, com os insetos, lagartas, baratas, potó, catitas, ratos… nunca os mato.
Quando aparece alguma aranha em casa, sempre sou chamado, pois as pego e cuido em soltá-las no mato, mas não as mato. O único bicho, animal que me causa asco são as cobras. Estas, quando as conheço, procuro pegá-las e despachar bem longe de casa. Agora, quando não sei o grau de letalidade da mesma, mato. E não me causa dó nem dor. No mais, tenho sempre uma boa convivência com meus amiguinhos, mesmo os arredios, intra e extraterrestres. Política da boa vizinhança.
O meu pé-de-maracujá lembra-me muito a Carmem Miranda em seus balangandãs e no seu ritmo tico-tico no fubá distribuído pelos palcos mais famosos dos cassinos europeus. Com o vento soprando melodias astrais ao seu ouvido ele se remexe todo em sua saia rodada. E encanta tanto quanto ela encantou e cantou mundo à fora.
O meu pé-de-mamão, não sei se devido ao modelo do seu caule e ao corte detalhado das suas folhas, leva-me ao mar e às suas jangadas em velas ao tempo. Sinto-me, perto dele, um havaiano em charuto cubano, camisa florida e em chapéu Panamá branco à mesa do bar num belo drinque ao som das ondas do mar a balançar canoas.
A minha Pimenta Malagueta é espevitada e o tempo todo porra-louca. É linda em vermelho-sangue e verde-oliva. É, verdadeiramente, uma linda piriguete. Parece uma putinha de beira de cais em fivelas coloridas a enfeitar suas madeixas. Essas rapariguinhas que ficam à beira das “BRs” em shorts curtos para picar caminhoneiros desavisados. Ela dá um sabor ímpar à comida.
A minha Roseira está sempre muito bem maquiada e perfumada. Logo cedo passa batom vermelho nos lábios, passa pó na face, passa lápis nos cílios e com a ponta do lápis faz um sinal na face direita (o famoso pega-rapaz), bota seu vestido em rosas grandes em tecido de chita e se senta numa cadeira à calçada aos finais de semana para distribuir beleza, empatia e simpatia.
Agora, tem um cara, aqui, que não é muito bem quisto. Nem muito bem visto. Nem muito bem vindo pela fauna e nem pela flora. Dizem que é forasteiro da África. É um tal de “Nin”. Os insetos e os pássaros o abominam. Um dia desses, estava eu aguando as plantas quando um gafanhoto enorme e belo em verde-cana pousou no seu topo, porém, demorou pouco e partiu. Contudo, eu o respeito e o trato muito bem. Com toda amabilidade. Adoro sua sombra que é soberba, introspectiva e fria.
Antônio Ribeiro de Sampaio Neto, nascido no bairro Cidade Nova, em Teresina(PI), no dia 29 de junho de 1963. Filho de Singleustre Ribeiro de Sampaio e de Marlene Lemos de Sampaio. Ex-funcionário do Banco do Brasil onde ficou por 15(quinze) anos. Cursou Letras Português com Literatura Brasileira e Introdução à Literatura Portuguesa, na Ufpi (Universidade Federal do Piauí). Pai de Ananda Sampaio (Escritora), Raíssa Sampaio, João Victor Sampaio e Bento Sampaio. Atualmente, reside na cidade, ribeirinha, de União(PI). Tem por hobby música(fã incondicional de Belchior – in memorian), livros e cachaça, ao pé do balcão. Adora passar o tempo jogando conversa fora(cotidianas, bobas e triviais à companhia de mentirosos – pescadores e caçadores).