Coluna de Antônio Neto
Década de 70, eu e o Chico (in memorian), meu irmão, vivíamos, nos finais de semana, no estádio Lindolfo Monteiro ou no Albertão. Os campeonatos eram inflamados e as torcidas eram acirradas. Éramos riverinos doentes. Durante a semana, jogava minha pelada, à tardinha, no Areial ou no Campinho, e aos sábados, no “Pró-Álcool Futebol Club”, que era um time da galera do bairro Monte Castelo. Quem nos levou, eu e o Amaral, para jogarmos nele, foi o Hélio (in memorian). Jogava de zagueiro central e o Amaral de quarto zagueiro. De tanto jogarmos juntos, nas peladas, já éramos entrosados.

Um dia, depois da pelada, ficamos sentados conversando à beira do campo, e o Antônio, que já treinava na Escolinha do Flamengo, convidou a mim, ao “Manim” e ao Amaral, para irmos, no sábado, fazer o teste na Escolinha do Pato Preto (in memorian), pois estavam escolhendo novos atletas. De pronto, já fui dizendo: “Eu não irei!”. Era, para mim, uma traição enorme com meu irmão. Nem pensar. Jamais poderia fazer uma desfeita dessa. Ficaram tentando me convencer, que não tinha nada a ver uma coisa com a outra, mas continuei irredutível. O Antônio passou o resto da semana tentando, insistentemente, me convencer: “Vamos lá, rapaz! Se você não quiser ficar, não será obrigado ficar”. Fomos os quatro, de bicicleta, como havíamos combinado. Durante o percurso, o Antônio foi o tempo todo dizendo, que, eu e o Amaral iríamos ficar.
Uma vez, o Paulo de Tarso, meu amigo de infância, me convidou para ir, com ele, assistir um culto na igreja dele, que era a Igreja Batista da Catarina. Embora fosse uma igreja cristã, senti uma angústia tão grande, em meu coração, naquela noite, pois parecia que estava traindo Cristo. Assim como fez Judas, o Iscariotes. O mesmo sentimento sentir quando vestir aquela camisa do Flamengo. Fiquei com ela sobre a perna até o momento em que o Pato Preto chamou meu nome.
Ficamos no time de baixo, que era formado pelos reservas e pelos novatos. Jogamos e perdemos, pois o time de cima, dos titulares, já estava afinado. Alguns já iriam pro time profissional para disputar o campeonato. Quando terminou o treino, o assistente técnico, veio até nós, com uma prancheta à mão, e pediu para sentarmos um pouco, pois o Pato Preto queria falar conosco. Além de nós, ficou uma galera de outro bairro, que também tinha ido fazer o teste. Ficamos. Nos foi pedido uma cópia da Certidão de Nascimento e duas fotografias 3X4, para serem entregues no próximo treino. Nunca mais passei na porta da Sede, que ficava na Av. Barão de Gurgueia, na Tabuleta, e fiquei rezando pro meu irmão não saber que havia vestido aquela camisa rubro-negra. Ele nunca soube. Graças a Deus!!!
Antônio Ribeiro de Sampaio Neto, nascido no bairro Cidade Nova, em Teresina(PI), no dia 29 de junho de 1963. Filho de SIngleustre Ribeiro de Sampaio e de Marlene Lemos de Sampaio. Ex-funcionário do Banco do Brasil onde ficou por 15(quinze) anos. Cursou Letras Português com Literatura Brasileira e Introdução à Literatura Portuguesa, na Ufpi(Universidade Federal do Piauí). Pai de Ananda Sampaio(Escritora), Raíssa Sampaio, João Victor Samapio e Bento Sampaio. Atualmente, reside na cidade, ribeirinha, de União(PI). Tem por hobby música(fã incondicional de Belchior – in memorian), livros e cachaça, ao pé do balcão. Adora passar o tempo jogando conversa fora(cotidianas, bobas e triviais à companhia de mentirosos – pescadores e caçadores).