segunda-feira, junho 16, 2025
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TAREFA EMPLEITADA

Texto de Antonio Neto

às 12:17

Foto: Reprodução

Antes de pôr os pés ao chão, pela manhã, ensinou-me minha mãe, a fazer o Sinal da Cruz e a rezar um Pai-Nosso e uma Ave-Maria, para começar o dia com a proteção de Deus-Pai. Depois, um beijinho na bochecha do Bento, outro no olho da Joyce, levanto. Banho um banho demorado, escovo-me, penteio-me e ponho roupa, na máquina, para lavar – sabão e amaciante. Regulo o botão da quantidade de água pro nível 4, e o botão maior para lavagem rápida. A Cacau está deitada, enrolada, debaixo da pia, da área de serviço, esquivando-se dos raios, famintos, do sol. Jogo milho pros patos, ponho água nas suas vasilhas e eles ficam sassaricando e grasnando de alegria em torno da poça d’água. Sento, à sombra do muro, no quintal, para rezar, e ouço a máquina começar os trabalhos. O cenário, colorido, à minha frente, está composto, mais ou menos, assim: a Cacau, enrolada, sob a pia, meu espelho a cima que comprei numa banca do Mercado para fazer a barba, um galão, seco, de água mineral, dois cestos cheios de roupas sujas – o menor com as roupas do Bento, o maior com as nossas e gerais, o Cristo pregado à parede e a máquina, ao lado, cumprindo sua labuta. No canto da calçada, tem um pé de mamão, macho. Está sempre florido, mas seu fruto não serve para consumo. Eles dão em corda. São duros e sem sabor. Nunca tive coragem de cortá-lo, pois quando cheguei, ele já estava estabelecido, no canto da calçada. Suas flores são branquinhas, pequeninas e dão em abundância. Vou rezando… chegam pardais, garrinchas, dois beija-flores(lindos!) e um besouro em suas asas estridentes e em zumbido estonteante. Eles, todos, chegam, demoram-se pouco, alguns alimentam-se das flores brancas, outros só pousam e cantam, depois, todos, somem. Quando penso que não, estão todos, ou parte deles, de volta ao pezinho de mamão em flores brancas. Termino de rezar, e vou levar o lixo pra fora, pois, sendo, hoje, quinta-feira, é dia de carro. A Cacau sempre me acompanha até o portão. A máquina para, estendo as roupas ao varal, onde o sol já queima, ponho outro lavado – roupa, amaciante e sabão -, e vou tomar café. Espero o Bento acordar para tirar a fralda e botá-lo para mijar. Banho-o, penteio, ponho uma cuequinha, bato o colchão, que fica no chão da sala, cubro-o com um lençol limpinho da hora, e ponho-o deitadinho para assistir Masha e o Urso, Fazenda do Zenon, Patrulha Canina… e vou atrás de alguma fruta para ele. Enquanto ele vai assistindo as suas animações, deito à rede, que fica ao lado do colchão, e vou assistindo algumas aulas, até a mãe dele acordar para dar de mamar. Ah, ela pediu, para que antes de botar a máquina para lavar as roupas, desse uma olha na água para ver se não estava fraca… acabei esquecendo este quesito.

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